sábado, 19 de setembro de 2009

Mulato inzoneiro

O Mulato, Portinari
1903-1962
*

No Aurélio aqui do desktop inzoneiro é sinônimo de: mexeriqueiro, intrigante, mentiroso, sonso ou manhoso. E só. Manhoso até ainda vai... mas esse mulato cantado nos versos de Ary Barroso, hoje em dia, poderia processar o autor.
*
"Em todas as direções cruzavam-se homens esbofados e rubros, cruzavam-se os negros no carreto e os caixeiros que estavam em serviço na rua; avultavam os paletós-sacos, de brim pardo, mosqueados nas espáduas e nos sovacos por grandes manchas de suor. Os corretores de escravos examinavam à plena luz do sol, os negros e moleques que ali estavam para ser vendidos; revistavam-lhes os dentes, os pés e as virilhas; faziam-lhes perguntas sobre perguntas; batiam-lhes com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura como se estivessem a comprar cavalos. Na Casa da Praça, debaixo das amendoeiras, nas portadas dos armazéns, entre pilhas de caixões de cebolas e batatas portuguesas discutiam-se o câmbio, o prego do algodão, a taxa do açúcar, a tarifa dos gêneros nacionais; volumosos comendadores resolviam negócios, faziam transações perdiam, ganhavam tratavam de embarrilar uns aos outros, com muita manha de gente de negócios falando numa gíria só deles trocando chalaças pesadas, mas em plena confiança de amizade Os leiloeiros cantavam em voz alta o preço das mercadorias, com um abrimento afetado de vogais; diziam: "Mal-rais" em vez de mil-réis. À porta dos leilões aglomeravam-se os que queriam comprar e os simples curiosos. Corria um quente e grosseiro zunzum de feira."
O Mulato, Aluísio de Azevedo, 1881
*

"De negro y espanola sale mulato" e a legenda do quadro numera ainda didaticamente: espanhola n.1, negro n.2 e mulato n.3 - o mulato é a criança em cima do carneiro (?). Essa pintura pertence a uma série interessantíssima sobre mestiçagem na América Latina. Não sei o ano, nem o autor do quadro, mas peguei ele aqui: faculty.smu.edu/bakewell/BAKEWELL/type.html
*
Mario Cravo Neto
1947-2009
*

É D'oxum
Jauperi

Nessa cidade todo mundo é d'oxum / Homem, menino, menina mulher. / Toda essa gente irradia a magia / Presente na água doce / Presente na agua salgada e toda cidade brilha / Presente na água doce/ Presente na água salgada e toda cidade brilha / Seja tenente ou filho de pescador / Ou importante desembargador / Se dar presente é tudo uma coisa só / A força que mora n'agua / Não faz destinçao de cor/ E toda cidade é d'oxum / A força que mora n'agua / Não faz destinçao de cor / E toda cidade é d'oxum / É d'oxum aiáiáiáiá, é d'oxum ô, é d'oxum / Eu vou navegar nas ondas do mar eu vou/ Navegar...

*

Mappelthorpe 1946-1989